4.11.14

Mais melancolia

SE-CURA (Eden Castelo Branco - 04/11/2014)

Tusso
Refluxo
Soluço.
A lágrima não cai.

Chacoalho
Espasmo
Vomito.
Gota sequer não cai.

Me entupo de palavras
Tomo porres
Mão descontrola.
Meto o dedo no olho e não cai.

Sou Zeus
Sou Áriman
Sou Lúcifer.
Malditinha não cai.

Quem de nós aqui não quer mesmo conseguir esquecer como se lembrar de tudo?

Minha sua provocação sem motivo
Minha sua força da voz doída no ouvido
Minha sua subida no muro furtiva
Minha sua passividade agressiva
Minha sua expectativa de ser estrela
Minha sua persuasão que me revela

A reunião que nunca fizemos
Os filhos que nunca tivemos
Meu seu troféu que nunca veio
Meu seu controle
Meu seu risco
Minhas suas escolhas tão vãs
Minhas suas mais de setecentas lágrimas transformadas em LPs

Nossas tantas asas cortadas
Nossas quedas
Nossas ilusões românticas e infantis que agonizam mas não morrem...

Tudo dói
E nunca a lágrima.

Me repito
Me entendio
Me desloco.

E só me despenca poesia.

14.10.10

Peito aberto

VULNERÁVEL (Eden Castelo Branco - out/2010)

Nada
a esconder
Se( )não
tenho
nada
Nada
a perder.

2.10.10

MonoPluriPan

DENovo (Eden Castelo Branco - setembro/2010)

A rotina
está na
retina

Nada
Nada
Nada se repete igual.

12.7.10

Auto-desafio

ENTREGA (Eden Castelo Branco - 12/07/10)

Para se viver de bem
É preciso estar disposto
Por inteiro a ir além
Do conforto do próprio gosto.

14.1.10

Haikai de Fim de Tarde

DESCONFIANÇA (Eden Castelo Branco - 14/01/2010)

A agonia
É o preço da dúvida
Que a gente mesmo cria.

10.11.09

A fantástica história da morte do Super-Eu

Eu tinha 18 anos quando Ela perguntou por que havia deixado a última namorada. RespondEu, verdadeiramente, de acordo com sEus princípios, como Ela lhe havia ensinado. Ela perguntou, então, se podia contar pra o Outro-Eu. Eu disse que sim. Hoje ainda não tenho certeza se Eu havia sido ingênuo ou desnecessariamente sincero... Foi mais um de sEus atos heróicos, mas era o maior deles.

Não seriam tempos fáceis. Não foram. Onde estavam os superpoderes quando Ele (o Outro-Eu) levantou a voz pela primeira e praticamente única vez? Eu precisaria tirar forças de algum lugar. Eu não conhecia palavras mágicas que funcionassem. Eu não tinha Shazam, capa, olhar biônico, telecinese, garras de adamantium.

Só restou uma coisa: para se transformar num herói de verdade (o Supeeeer-Eeeeu!), bastava um arqui-inimigo à altura. Um vilão daqueles, uma encarnação do mal, sabe? Só poderia ser Ele, o Outro-Eu! Os novíssimos poderes seriam diretamente proporcionais ao tamanho do inimigo.

Por anos, Super-Eu combateu inimigos nas ruas, no trabalho, e em outros palcos que criara para si. Desfilava suas histórias e músculos com um certo orgulho. "Olhem como fui forte!", esperando ouvir das pessoas "Olhem que destemido! Olhem que especial!". Adorava fazer demonstrações públicas dos seus poderes.

Cansado de carregar o mundo nas costas e de combater o mal, Super-Eu percebera que o fazia por vontade própria. Super-Eu entendeu que, a despeito de ser "Outro", eles tinham o mesmo nome! SuperEu percebeu que o vilão era ele mesmo! (Não o Outro, O VILÃO ERA O PRÓPRIO SuperEu).

Descobrir que o mal habitava, na verdade, dentro dele, tirou-lhe o chão. O que seria de sua reputação sem inimigos?

Tempos depois, atormentado pelas dores, Eu percebera que não precisaria do reconhecimento do seu público cativo. Eu só queria ser visto por Ele, apenas Ele, o Outro. Eu achava que o Outro nunca esteve lá.

Num rasgo de lucidez, Eu recorrera ao Oráculo. E este lhe mostrou imagens de sua vida em que o Outro estava presente. O Outro sempre esteve por perto, ele só não fazia questão de ser visto. Ele era de um outro país, falava outras línguas. Era mais tranquilo. O Outro dizia que não precisava ser visto, nem ser dito. O Outro era para ser sentido. Eu entendera que podia aprender com o Outro a ser sentido. E isso bastou para Eu honrar-lhe a existência.

Fim da fantasia. Morre o vilão, vão-se os poderes. Agora ele é simplesmente "Eu". Não mais "Super". Apenas humano. Não mais "Outro". Apenas um.

8.11.09

O VELHO E O MOÇO

Fazia tempo que não via o Fê, um dos meus irmãos de alma. Ontem, nos encontramos num boteco e depois viemos para casa. Cada um teve uma ideia: eu abri o vinho, o Eto preparou uns comes, o Fê bolou outras coisas. Pus o Mac para tocar aleatoriamente. Risos, muitos risos.

De repente, começou a tocar a música que eu tinha elegido para ser "a" da semana passada. Ela ganhou este título não por ser objeto de estudo de minha futura monografia sobre perdas (da Pós de Semiótica Psicanalítica), mas porque fala de tudo o que tenho percebido sobre a minha relação com meu pai. E sobre o quanto eu não tinha me permitido sentir algumas dores. Nem ter me perdoado por tantas outras. E o quanto ele sempre esteve lá. O quanto eu não enxergava isso. O quanto sou só uma criança perto dele. O quanto eu não estou preparado.

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O VELHO E O MOÇO (Los Hermanos)

Deixo tudo assim
Não me importo em ver a idade em mim
Ouço o que convém
Eu gosto é do gasto
Sei do incômodo e ela tem razão
Quando vem dizer, que eu preciso sim
De todo o cuidado
E se eu fosse o primeiro a voltar
Pra mudar o que eu fiz
Quem então agora eu seria?
Ahh, tanto faz
E o que não foi não é
Eu sei que ainda vou voltar
Mas eu quem será?

Deixo tudo assim, não me acanho em ver
vaidade em mim
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.
Sei do escândalo e eles têm razão
Quando vem dizer que eu não sei medir
nem tempo e nem medo
E se eu for o primeiro
A prever e poder desistir
do que for dar errado?
Ahhh
Olha, se não sou eu
quem mais vai decidir
o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão

Ahhh, se o que eu sou
É também o que eu escolhi ser
aceito a condição
Vou levando assim
Que o acaso é amigo do meu coração
Quando falo comigo, quando eu sei ouvir.
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Assim que começaram os primeiros acordes, eu disse pro Mac:
- Eu não te pedi pra tocar isso!!!
(pausa longa)
- Pedi sim.

E comecei a chorar.

1.11.09

Obsessivo

CONVERGÊNCIA (Eden Castelo Branco - 3/7/8)

Quero tudo e nada.

Escolho escolher
O que eu puder
Conter em mim
Experimentar
Em mim

Posso e, portanto, falho
Falho e, por tanto, posso

Por que ser só
Eu
Se eu posso ser tantos?

Nenhum
Nem um
Um
Ambos
Todos.

Safadinho

BANCO DE METRÔ (Eden Castelo Branco - 1/10/8)

Meu casaco
Se apaixonou por uma senhora.

Ousada
Manga
De mim
Queria

Relar-lhe as pernas

E ganhou
Um tapa
Na mão
Que não tem.

Morro todo dia

EPÍGRAFE (Eden Castelo Branco - 6/5/2008)

Eu
queria
Ser
poesia
E de
tanto
Eu
sem tato
Me
restaria
Ser
narrativa
De
mentira

tentativa
De
mim.